SDDH Ano 35 - Invasão da gráfica Suyá I

A SDDH completa 35 anos no próximo dia 08 de agosto. No decorrer deste ano, continuamos a publicar informações históricas, que fizeram parte não só da construção da entidade, mas que fazem parte da luta por uma cultura de direitos humanos na Amazônia.

Neste contexto, segue parte do documento intitulado "Invasão e incêndio da gráfica Suyá, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos", assinado pela historiadora e então presidente da SDDH, Izabel Marques Tavares da Cunha, em Belém, Outubro de 1984.

A invasão da sede da SPDDH: gráfica e escritório

No dia 10 de outubro de 1984, cerca de 17 horas, entraram na sede da SPDDH 6 (seis) homens que se diziam policiais (posteriormente identificados como pertencentes ao DOPS) e, como eram “autoridades”, iam fazer um serviço de busca e apreensão, porque haviam recebido denúncia de que a gráfica estava imprimindo material subversivo. Estavam no escritório da SPDDH a Presidente, historiadora Izabel Marques Tavares da Cunha; o Coordenador do Núcleo de Imprensa, engenheiro agrônomo e vereador do PMDB Humberto Rocha Cunha; o gerente da gráfica, engenheiro e economista Daniel Ferreira Veiga; e a Sra. Jolane Manescky. No parque gráfico, encontravam-se operários, clientes e funcionários. Aqueles que se apresentaram como autoridades, foi-lhes pedido que exibissem o mandato de busca e apreensão, assim como apresentassem documentos de identificação. Os policiais se recusaram e argumentaram que tudo isso era dispensável porque estavam acompanhados de autoridade (viemos a saber depois que quem era o responsável pela operação é o delegado do DOPS, Dr. José Maria Rosário Teixeira. A presidente da entidade falou que, nesse caso não iriam eles escritório da SPDDH, que ela mesma era presidente, que os membros da entidade iam comunicar ao governador peemedebista Jader Barbalho, que esse ato era arbitrário, incompatível com um governo que se afirma democrático, que atitudes como essa eram comparáveis aos dos piores anos da ditadura. Mesmo assim, os policiais começaram a pegar papéis, remexer nos armários, nos arquivos, nas pastas, no arquivo fotográfico, amontoando pastas, papéis, fotos, recortes, jornais e tudo que consideravam “subversivos”. Apreenderam inclusive um cartaz de recente debate promovido pela SPDDH que trazia letras em cor vermelha e nome de partidos clandestinos que participaram do debate, o qual foi amplamente noticiado pela imprensa escrita e falada.

Enquanto remexiam os papéis, Izabel Cunha e Humberto falaram que iam comunicar o fato ao seu advogado Dr. José Carlos Castro e ao presidente da Câmara Municipal de Belém e se dirigiram ao escritório do gerente Daniel Veiga, em outra sala, a fim de usarem o telefone. Os policiais invadiram a sala e começaram a espancar o Coordenador do Núcleo de Imprensa, vereador do PMDB Humberto Rocha Cunha. Este tentava defender o telefone, uma vez que os policiais queriam talvez danificar os fios, para cortar a instalação telefônica. Somente um dos policiais, alto, forte, moreno, barbudo, cabelo liso, interferiu, ficando entre Humberto e um outro policial, baixo, moreno claro, meio magro, que batia em Humberto. A interferência foi no sentido de fazer lembrar que Humberto era vereador. Mas o delegado José Maria gritava que vereador ali não existia imunidade parlamentar nem PMDB e ordenou que Humberto fosse algemado, “nem que seja preciso dar porrada”. A algema de metal velha e enferrujada foi colocada à força, visto que Humberto resistiu em ser algemado. Após algemar, passaram a tortura-lo, batendo seguidamente nas algemas durante vários minutos, até prender totalmente a circulação do sangue. A algema começou a doer, havendo tentativa do policial moreno e barbudo já referido, em afrouxar as algemas, mas como esta havia sido colocada e ainda por cima batida com força a chave não mais conseguia abri-la. Humberto foi colocado na sala de composição, que fica próxima à entrada, como não havia nenhum policial por perto, saiu em direção à Frutuoso Guimarães e na altura da travessa Aristides Lobo pegou um taxi que o deixou no Ginásio do Sesc, onde se realizava o Congresso Estadual de Vereadores, único fórum onde se podia denunciar a invasão naquele momento. Grande foi o impacto entre os vereadores ao ver entrar Humberto Algemado com as mãos para trás. Ainda no Ginásio do Sesc, os vereadores conseguiram uma serra e separaram as algemas, liberando os braços e mãos. Daí foi levado para o Departamento de Vigilância Geral, já acompanhado do presidente do PMDB, deputado federal Vicente Queiroz, recebendo também todo o apoio do presidente da Câmara Municipal de Belém, vereador Emanuel Ó de Almeida, do presidente da União dos Vereadores, José Colares, e dos 300 ou mais vereadores presentes. Na DVG, na presença dos vereadores Romero Ximenes e Paulo Fonteles e muitas pessoas ligadas às entidades democráticas, foi necessário usar todos os recursos para desmontar as algemas. Os pulsos e as mãos de Humberto estavam inchados, vermelhos e feridos. Atualmente, quatro dias depois, as mãos estão sem tato e o corpo todo dolorido. Esse trabalho de retirada das algemas durou 3 horas.

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