Matéria da Time ajuda a dá visibilidade internacional à chacina ocorrida em Belém
Matéria da Time, produzida por Dom Phillips e publicada no seu site em 10 de novembro de 2014, noticia ao mundo o caso da Chacina ocorrida em Belém no madrugada do dia 04 para o dia 05 de novembro. Na matéria é entrevistada moradores dos bairros onde ocorreu os fatos e ativistas de direitos humanos. A matéria evidencia que as mortos ocorridas podem ter ligação com atuação de grupos de extermínio na região metropolitana de Belém. Vejamos a matéria traduzida por Raony Pinheiro, do Departamento Internacional da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
Assassinatos cometidos por Milícias no Brasil evidenciam brutalidade da polícia.
10 mortos em sangrenta noite de violência na cidade nortenha de Belém.
A
morte de dez pessoas em uma cidade brasileira do norte do país na semana
passada por uma milícia supostamente ligada à polícia militar brasileira tem
levantado temores de um problema crescente com a violência policial em um país
onde os novos números revelam que 2.212 pessoas morreram em confrontos com
policiais no ano passado .
Dez
civis foram mortos a tiros na terça-feira nos subúrbios pobres de Belém, uma
cidade da Amazônia, Estado do Pará, em uma noite sangrenta de violência que
durou até as primeiras horas da manhã. O massacre, aparentemente realizado por
um único grupo de homens mascarados, se sucedeu após o assassinato de um
oficial de polícia horas mais cedo que foi acusado de estar envolvido em uma
"milícia" - no Brasil, termo utilizado para descrever uma organização
criminosa que inclui o ex-policiais e/ou da ativa.
"Há
uma grande probabilidade de que se não havia envolvimento direto de policiais
da ativa, então havia pessoas que já passaram pela polícia", disse Anna
Lins, advogada de Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. "Foi
execução sumária".
A
organização dela faz parte de uma coalizão de grupos de direitos humanos,
políticos e ONGs que pedem um inquérito na Assembleia Legislativa do Estado
para investigar milícias no Pará. "Nós não queremos que a polícia aja
sozinha nesta investigação", disse Lins.
Alexandre
Ciconello, assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional Brasil, disse
que há fortes indícios de que policiais estavam envolvidos. "Foi um
massacre orquestrado para matar pessoas", disse ele.
A
noite de caos começou quando Antônio Figueiredo, também conhecido como 'Pet',
foi morto a tiros quando chegava em casa no início da noite do dia 04 de
novembro. Ele era um cabo na força-tarefa especial, ROTAM, da Polícia Militar
do estado - força policial ostensiva, ou 'ofensiva', do Brasil,
que trabalha ao lado da polícia civil, que é responsável pelas
investigações.
A
Anistia disse que seus colegas policiais utilizaram as redes sociais para pedir
vingança. "Nosso irmãozinho Pet acaba de ser assassinado", disse uma
mensagem postada no Facebook pelo colega de Figueredo, sargento Rossicley
Silva. "Vamos dar a resposta." Ele culpou uma guerra entre gangues
rivais.
Um
comboio de homens mascarados em motocicletas, e posteriormente em dois carros, atravessou
os bairros, empoeirados e dominados pelo
crime, da Terra Firme e Guamá, entre outros, matando aleatoriamente moradores até
a madrugada. A polícia já abriu uma investigação.
Sargento
Silva disse mais tarde que sua postagem no Facebook tinha sido mal
interpretada. "Eu pedi o apoio no sentido de combater a criminalidade. Nosso
objetivo não é a vingança ", disse Silva, o site de notícias local Diário
Online informou.
Um
porta-voz da polícia civil de Belém, do departamento que lida com as
investigações, disse à Time que Figueiredo foi suspenso das suas funções por
motivos de saúde aquando da sua morte, e estava sendo investigado por dois
homicídios.
Um
porta-voz da polícia militar disse que não era possível confirmar uma ligação
entre as mortes, seis das quais próximas uma a outra, e cinco aleatoriamente.
"Todas as perguntas, análises e conclusões relativas ao caso e sobre a
participação ou não da polícia militar nos eventos em questão estão sendo
investigados e serão tornados públicos", disse o porta-voz, em um e-mail.
O
Pará tem uma taxa de homicídios de 41,7 por 100 mil habitantes, de acordo com
os números do Mapa da Violência de 2012 produzido pela Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais no Rio. A taxa de homicídios de Los
Angeles no mesmo ano foi de 7,8 por 100.000.
Um
morador de Terra Firme, que pediu para não ser identificado por razões de
segurança, afirmou que a milícia de Figueiredo estava competindo pelo controle
do tráfico de drogas nas favelas sem lei, onde grande parte das mortes
aconteceram. A milícia também atuou como um esquadrão da morte, disse o residente,
contratado por negócios locais para matar membros de gangues de relacionadas ao
tráfico de drogas. "Eles são como vigilantes que matam bandidos, então
eles se tornam assassinos."
Quando
'Pet' foi morto em torno das 19:30 do dia 04 de novembro, moradores comemoraram
com o lançamento de fogos de artifício. "Pet foi acusado de matar muitos
jovens, ele liderou um grupo de extermínio", disse o morador. Alguns
moradores já foram colocados sob proteção a testemunhas.
Eliana
Pereira, Ouvidora Estadual de Segurança Pública do Pará e ativista de direitos
humanos, disse que as mortes por vingança em Belém não seriam nada fora do
comum para as milícias ligadas a policiais. "Este não é o primeiro caso.
Houve outros massacres ", disse ela, citando o caso do ex-policial militar
Rosivan Moraes Almeida, condenado a 120 anos de prisão em outubro por matar
seis adolescentes em 2011.
O
Rio de Janeiro há muito tem lutado contra um problema com milícias envolvendo
policiais e ex-policiais envolvidos em atividades como cobrança de dinheiro
para proteção e controle do fornecimento de gás e TV a cabo nas áreas mais
pobres.
A
Anistia Internacional disse que o massacre foi representativo de um problema
mais amplo com a violência policial no Brasil. "A polícia brasileira é uma
das forças que mata mais no mundo", disse Ciconello, assessor de Anistia.
De
acordo com dados anuais, a serem lançados em 11 de novembro do Fórum Brasileiro
de ONGs de Segurança Pública, dentro e fora de serviço a polícia brasileira
matou 11.197 pessoas nos cinco anos antecedentes a 2013. A título de
comparação, o Fórum, disse, a polícia dos Estados Unidos matou 11.090 pessoas
nos últimos 30 anos.
O
morador Terra Firme disse que dentre aqueles que foram mortos em Belém, incluem-se
um homem de 20 anos de idade, que era cobrador de ônibus local e um rapaz de 16
anos de idade. "Queremos que o Estado investigue e que vivamos em uma
sociedade com paz social", disse o morador.
Tradução Livre – Raony Pinheiro
Fonte:
Disponível em http://time.com/3576606/brazil-belem-amazon-militia/.