Dia Nacional de luta é marcado com grande manifestação em Belém
Por Alberto Pimentel
O dia 13 de
março de 2015 será um dia para entrar para a história do Brasil. Milhares de
manifestantes ligados a diversas organizações e movimentos sociais e centrais sindicais
tomaram as ruas das capitais do país para defender uma reforma política com
ampla participação popular, os direitos dos trabalhadores e a Petrobras. São
Paulo foi o estado em que teve maior participação, com mais de 60 mil pessoas. Nos
outros estados do Brasil, também teve milhares de pessoas nas ruas. Em Belém a
manifestação teve participação de aproximadamente 3 mil pessoas, que saíram da
Praça da República e caminharam para o Mercado de São Braz. Para Viviane Brígida
do MST, esta manifestação tem uma grande importância para os militantes de movimentos
sociais, partidos de esquerda, de direitos humanos e de todos aqueles que
querem uma mudança de fato no Brasil, porque acontece numa conjuntura em que o
conservadorismo das elites avança e quer desestabilizar nosso país. Enfatiza, ainda,
que diante deste cenário é importante que os movimentos sociais estejam nas ruas
se manifestando.
Em Belém, além
dos militantes sociais e políticos da Região Metropolitana, a manifestação também
contou com a participação de atingidos por barragens que vieram de outras
regiões do estado, principalmente Marabá e Tucuruí, para dar seu recado na
capital, já que o dia 14 de março é o Dia Internacional de Luta contra as Barragens.
Para Rogerio Höh (MAB) a reforma do sistema político, a defesa da Petrobras e a
defesa da democracia são temas centrais da conjuntura e que também fazem parte
da conjuntura do MAB, por isso o movimento entendeu a importância de trazer os
atingidos para a capital do estado para se solidarizar e trabalhar a unidade em
torno das lutas centrais que são temas relevantes também para a continuidade de
sua luta. Rogério caracterizou o movimento da direita como uma postura fascista,
antidemocrática e ditatorial, e que sua ofensiva contra o governo é principalmente
por causa do petróleo e energia. Por isso, “estamos juntos com as demais
organizações para dizer não à tudo isso”, enfatizou.
Constituinte da Reforma do Sistema Político
Foto: Jean Brito |
Diante da
crise de representatividade política, evidenciada nas manifestações de junho de
2013, diversos movimentos sociais iniciaram uma grande campanha em defesa de
uma constituinte exclusiva e soberana para reforma do sistema político. Em
setembro realizaram a primeira grande ação, um plebiscito popular consultando o
povo, para saber se este era a favor de uma constituinte para a reforma política.
Durante a manifestação várias organizações defenderam a proposta desta Constituinte
como caminho para enfrentar o problema da corrupção. De acordo com Adima Farias Monteiro, da
Consulta Popular, esta manifestação também faz parte da luta nacional em defesa
de uma Constituinte exclusiva e soberana da reforma do Sistema político, que
tem como principal objetivo aprofundar a democracia em nosso país. Pauta esta que
só é possível graças à força que ganhou depois do Plebiscito Popular ocorrido
em setembro de 2014. “Então, é esse movimento que atingiu 7.754.000 pessoas que
coloca a possibilidade do povo brasileiro discutir a questão da reforma
política hoje, que é uma pauta histórica da classe trabalhadora, que os setores
conservadores não tem interesse nenhum de discutir”, afirmou.
Para Antonio
Alberto da Costa Pimentel, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos
Humanos, os movimentos sociais e os defensores de direitos humanos do estado do
Pará sofrem constantes processos de criminalização, principalmente por parte da
grande imprensa e do judiciário, e que a única forma de enfrentar isso é com
uma constituinte da reforma política, que possibilite mais participação do povo
na política e democratização dos meios de comunicação e do sistema de justiça. “Se
queremos acabar com as mazelas deste país, nós temos que fazer reforma política, para que pelo menos tenha uma
disputa mais igual nas eleições, fazer que tenha mais representação dos
trabalhadores, das mulheres e da juventude no congresso nacional, para isso é
necessário defender uma reforma política que combata o financiamento empresarial
de campanha, porque isso destrói a democracia”, afirmou Martinho Souza, da
Central Única dos Trabalhadores do Pará.
Silvia Rodrigues,
do Movimento de Mulheres Marias, defendeu que só uma reforma politica através de
uma constituinte vai garantir conquistas de mais direitos aos trabalhadores, como
acesso a serviços públicos e moradia digna; principalmente para as mulheres que
são as mais atingidas.
De acordo com Valdomiro
dos Santos, do Levante Popular da Juventude, a reforma política é uma reforma
central para o povo brasileiro, porque o nosso sistema político é extremamente
arcaico. “Nossos representantes não nos representa”, afirmou de forma enfática.
Ressaltou ainda, a importância da juventude se engajar na luta em defesa dos
direitos dos trabalhadores.
Defesa da Petrobras
Um dos propósitos da manifestação
também era defender a Petrobras, pois a mesma está sendo alvo de constantes
ataques. Segundo o movimento, estes ataques têm como único objetivo
desestruturar a empresa estatal para privatizá-la. “Hoje temos assistido um ataque à Petrobras
que é de meter medo; a intenção da mídia e da elite do país e privatizá-la e
não garantir os empregos dos trabalhadores”, explicou Martinho Souza.
Contra ajustes fiscais do governo
Mesmo se colocando radicalmente
contrários à proposta de Impeachment da presidenta Dilma, que classificam como
proposta golpista a serviço de interesses estrangeiros, foram feitas duras
críticas ao governo contra medidas de ajustes fiscais. Para Marcos Fonteles,
central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o governo não pode fazer
ajuste fiscal a custo de mais sofrimento dos trabalhadores, portanto, as Medidas
Provisórias 664 e 665 são um equívoco do governo. A CUT e os demais movimentos
sociais se posicionaram no mesmo sentido. O governo precisa encontrar outro
caminho que não seja a penalização dos trabalhadores pela crise.
Solidariedade à Venezuela
Durante a manifestação também foi
realizado um momento de solidariedade à Revolução Bolivariana, declarando apoio
ao governo de Nicolás Maduro, diante do posicionamento oficial de Barack Obama,
presidente dos Estados Unidos, declarando a Venezuela como seu principal inimigo
na atualidade. Foi lido a carta “Os povos com a Venezuela”, em que esta
destaca: “A ameaça contra a Venezuela é uma ameaça direta contra a América
Latina e Caribe. É uma nova ameaça para as democracias e os povos do mundo.
Você não pode passar despercebido ou indiferente”.
A
manifestação rechaçou a proposta de Impeachment da direita, taxando-a de
golpismo, colocaram-se contrários a qualquer retrocesso ou atentado à
democracia. Para Marcos Fonteles, é inaceitável o retrocesso no Brasil, este movimento
das elites que pedem um novo golpe militar. “O regime militar de 1964
assassinou dezenas e milhares de jovens e trabalhadores, já aprendemos com isso”,
afirmou. Marcos ainda destaca que, a direita não ataca o governo Dilma pelos
erros, mas sim pelos acertos e que o motivo de tanto ódio está no fato de que cresceram
o número de pessoas que melhoraram de vida; de que filhos de trabalhadores e
empregadas domésticas entraram nas universidades e estão se transformaram em
doutores, estão disputando vagas nas universidades com os filhos das elites.
Brenda Martins,
da União da Juventude Rebelião, destacou o crescimento da direita no congresso
nacional, que é um dos mais conservadores desde o período ditatorial. Que a manifestação
foi de fundamental importância para se pautar a defesa dos direitos e a soberania
nacional, uma Petrobras 100% estatal e a democracia.
Foto: Jean Brito |
Diante
do sucesso da mobilização, a imprensa elitista, logo buscou trabalhar para
tentar deslegitimá-la, já que não havia mais possibilidade alguma de esconder.
Apresentavam números que visivelmente se percebia que não condiziam com a
realidade, sempre buscando minimizá-los. Por exemplo, em São Paulo que teve mais
de 60 mil pessoas na rua, informaram que só tinha 12 mil. Em Belém que tinha
cerca de 3 mil, disseram que só tinha 800.
Neste
contexto, se as mobilizações do dia 15 de março ganharem a mesma proporção,
estaremos entrando num período de mobilizações intensas em nosso país,
extremamente polarizadas entre um lado que defende a garantia, ampliação e
avanço dos direitos dos trabalhadores e uma profunda reforma política como perspectiva
à crise política existente e, outro lado que defende o ajuste fiscal e as politicas
neoliberais, alinhados com os interesses imperialistas norte americanos, de
natureza fascista.