Famílias de Altamira sofrem constrangimento ilegal da Norte Energia e violência da polícia
As famílias do bairro Baixão do Tufi que estão resistindo há uma
semana contra a tentativa de demolição de casas por parte da Norte
Energia, que quer construir uma ponte sobre igarapés aterrados no local,
sofreram, no final da tarde desta quarta (15), mais uma tentativa de
despejo ilegal.
De acordo com os moradores, o funcionário de um cartório da cidade,
acompanhado por o que chamaram de “capangas da Norte Energia”, tentou
entregar aos manifestantes uma notificação extrajudicial de despejo (não
emitida pela Justiça e portanto legalmente inválida) e ameaçou com uma
nova ação policial para desalojar as famílias.
“A ação foi em nome das
mulheres que estão resistindo, querendo nos obrigar a sair das nossas
casas. Eles falaram que temos 72 horas para sair, depois vão tacar o
terror”, diz uma das moradoras. A maioria das famílias que permanecem no
Tufi vive como agregados de outros moradores e, de acordo com o Plano
Básico Ambiental (PBA) de Belo Monte, tem direito à indenização, o que
está sendo negado pela empresa.
A situação das famílias ameaçadas por despejos compulsórios tem se
complicado nas últimas semanas, uma vez que corre na cidade a informação
de que a Norte Energia não dispõe de novas casas para reassentar mais
pessoas. Neste sentido, teriam sido planejadas e construídas moradias
para apenas 4 mil das 9 mil famílias atingidas, e as que ainda não foram
reassentadas tem recebido ofertas de indenização descabidas, que variam
de R$ 4 mil a R$ 9 mil, de acordo com os moradores. “Nós não vamos sair daqui enquanto não tivermos uma solução para a
nossa situação”, afirma dona Francisca, uma das moradoras do Tufi que
participa do bloqueio das máquinas da Norte Energia no local.
Agressão policial
Ainda na noite desta quarta, por volta das 24h, um dos moradores do
bairro foi brutalmente agredido por policiais da Rotam (Ronda Ostensiva
Tática Metropolitana). De acordo com a vítima – um rapaz de 18 anos que
pediu para não ser identificado com medo de retaliações – informou que
saiu de casa para comprar alimentos numa venda próxima quando foi
abordado por quatro policiais, que o levaram para um canto escuro e
espancaram. “Quem me puxou foi o mesmo policial que há dois dias esteve
na manifestação e me agrediu porque comecei a gravar a ação deles com
meu celular.
Naquele dia ele tomou meu telefone e apagou as gravações. Ontem a
noite ele me pegou e só falava ‘tu lembra de mim? Tu lembra de mim?’. Aí
eles e mais três começaram a me bater, um me segurava, os outros me
batiam. Me enforcaram e tentaram colocar um saco plástico na minha
cabeça pra me sufocar. Depois em soltaram e foram embora”.
A vítima mora em uma casa no Tufi com sua esposa e o filho de um ano.
“Eu já fui cadastrado pela Norte Energia para receber indenização, mas
eles só ficam me enrolando, mandando ir aqui e ali, e nunca solucionam
minha situação. Minha casa está numa situação muito precária, mas eu não
posso concertar ou construir uma nova por causa dessa situação”,
explica. Questionado se deu queixa da agressão, o rapaz negou e disse
que tem muito medo de represálias. “Se eu denunciar eles vão na minha
casa, plantam drogas e me prendem ou me matam”, afirmou.
Notificação contra a policia
Ainda nesta quarta, a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) protocolou junto à Secretaria Estadual de Segurança uma petição contra a ação da PM e da Rotam em Altamira, denunciando abusos de poder e prestação de serviço a um ente privado (Norte Energia) contra a população. Na ação, a SDDH solicita que a Secretaria apure as denúncias de violência e que ordene a paralisação deste tipo de ação.
Ainda nesta quarta, a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) protocolou junto à Secretaria Estadual de Segurança uma petição contra a ação da PM e da Rotam em Altamira, denunciando abusos de poder e prestação de serviço a um ente privado (Norte Energia) contra a população. Na ação, a SDDH solicita que a Secretaria apure as denúncias de violência e que ordene a paralisação deste tipo de ação.
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Fonte: Movimento Xingu Vivo