Maioridade Penal: Afinal qual a questão?
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Todo mundo sabe que o Brasil já teve a pena de morte na sua história em ocasião o genocídio dos indígenas e africanos na época colonial, depois vieram as rodas dos expostos onde se colocavam as crianças “de ninguém” e o período higienista do século XIX quando se isolavam as crianças e adolescentes doentes por meio de um processo de guetização da infância. Depois passamos aos Código de Menores de 1927, depois ao Serviço de Assistência ao Menor, a FUNABEM e FEBEM e depois o Estatuto da Criança e Adolescente.
É necessário lembrar de Lombroso
que tentou no século passado padronizar esteticamente e geneticamente os
presos, apresentando a ideia de que o ser humano tem padrões que o fazem ladrão
ou gente boa. Esse breve percurso histórico põe-se no centro da discussão da
maioridade penal.
O que se quer fazer com as pessoas fora do padrão
“socialmente aceito?” A redução da maioridade penal nada mais nada menos é que
uma das expressões de uma realidade social de profunda vulnerabilidade. O
problema da violência juvenil é exatamente o mesmo que afeta a violência contra
a mulher, contra os negros e índios, contra os homossexuais, contra os
adolescentes do “rolezinho”.
A posição que a sociedade assume
diante da maioridade penal pode ser realmente equivocada se ela não for
relacionada com um âmbito maior. Afinal as pessoas querem reduzir a idade
abraçando uma falsa ideia de que o encarceramento, a prisão e a tortura são os
meios que permitem recolocar os jovens nos eixos padronizados de uma realidade
excludente e perversa que deixa eles sem emprego e trabalho, mas com
aprendizagem garantida no tráfico e uso de drogas.
O que está em jogo não é a idade penal é a posição que o país toma
diante do processo de evolução da espécie humana e dos direitos dos homens e
mulheres. Dessa forma chegamos ao
trevo de nossa escolha: encarceramento ou educação, celas ou salas de aula,
castigos ou reconstrução de projetos de vida, pena de morte ou oportunidades?
É isso. No nosso Estado a realidade da pobreza
e da ausência de oportunidades é muito forte e, consequentemente, praticamente
todos os adolescentes que cometem ato infracional são ligados ao tráfico e a
vulnerabilidade, pois essa tem cor e raça, território e classe econômica.
É necessário fazer esse salto
qualitativo no olhar sobre o tema da maioridade penal chegando, dessa forma, a
nos questionar em relação a qual conjunto de valores hoje alicerça as relações
na sociedade brasileira.
Quais valores e olhares: vida ou morte? Parece-me que
tristemente estejamos retornando a lei do talhão ou seja, olho por olho dente
por dente. Isso acaba com qualquer processo de evolução da espécie humana.
Não a redução da maioridade
penal!
André Franzini
Assistente Social
Coordenador Nacional da Pastoral
do Menor da CNBB