Museu do Araguaia era fachada para ações de agente da repressão política

Museu está completamente abandonado / Foto: Jean Brito

A Comissão da Verdade do Pará em conjunto com a Universidade Federal do Sul e Sudoeste do Pará (UNIFESSPA) e da Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA) apresentou ontem (31), no auditório do Campus I, em Marabá, relatório da Diligência realizada, em 18 de junho deste ano, ao antigo Museu da Guerrilha do Araguaia, em São Geraldo do Araguaia (PA).

A mesa, coordenada pelo comissionado Paulo Fonteles Filho e pela professora Idelma Santiago (UNIFESSPA) contou com as presenças de Sezostrys Alves da Costa (ATGA) e do deputado federal Beto Salame (PROS/PA), membro-titular da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

O acervo recolhido, depois de detida análise, revelou que o antigo Museu da Guerrilha do Araguaia serviu, durante mais de vinte anos, de fachada para as ações de monitoramento, vigilância e informações de Eduardo Lemos Porto, técnico-agrícola, infiltrado no Sul do Pará entre às décadas de 1970/1980 pelo Centro de Inteligência da Marinha (CENIMAR), conforme comprovam os documentos tornados públicos pela Comissão da Verdade do Pará (CEV-PA).

A infiltração do agente na região, onde foi deflagrada à guerrilha do Araguaia (1972/1975), correspondeu às preocupações com que a repressão política teve com a ação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no curso das crescentes lutas de resistência dos posseiros conta a grilagem e os projetos de grandes empreendimentos capitalistas no Sul e Sudeste do Pará.

A ação de Eduardo Lemos Porto, ligado à Marinha desde 1973, assessorou as ações do Grupo Executivo de Terras Araguaia-Tocantins (GETAT), instrumento que militarizou a questão fundiária na região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia e que era ligado diretamente ao então Conselho de Segurança Nacional (CSN), da Presidência da República.

Os documentos comprovam, ainda, que a estrutura de vigilância e de informações aos órgãos de segurança perdurou até a década de 2000 e que o movimento dos camponeses que lutam para conquistar reconhecimento e reparação, ligados à ATGA, foram monitorados pela estrutura clandestina com amplas conexões com agentes do Estado na ativa. A documentação recolhida, incluindo documentos originais do GETAT e relatórios de informações, estão sob a guarda da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). 

Fonte:  Comissão da Verdade e Justiça no Pará

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