Jornal Resitência- edição 42 - julho de 2019
Desenho: Luana Brown
EDITORIAL
Os seis primeiros meses de 2019 revelaram, sem pudores, a seletividade
penal do sistema judiciário brasileiro e como este sistema se converteu em um
dos principais instrumentos políticos para o golpe dado no Brasil em 2016. No entanto,
esta seletividade penal não é de agora: o judiciário brasileiro sempre atuou
com dois pesos e duas medidas, com forte viés ideológico elitista e de costas
para as classes mais empobrecidas. O escândalo da Lava Jato, com as denúncias
feitas pelo jornal eletrônico The Intercept Brasil, revela esta seletividade e
o quanto a Operação Lava Jato é parcial, guiada por propósitos políticos.
A série de denúncias que expôs à sociedade as conversas entre os chefes
Operação Lava Jato, dentre eles o procurador Deltan Dallagnol e o então juiz
federal Sérgio Moro, demonstra que a operação era orientada pelo agora ministro
da Justiça e Segurança Pública. O cargo se mostrou um prêmio dado pelo
principal beneficiado com a artimanha, o ex-capitão Jair Bolsonaro, vitorioso
nas eleições presidenciais de 2018 pelo fato de Lula ter sido retirado da
disputa com a operação. Os fatos que se seguiram ao conluio exposto pela Vaza
Jato são provas decisivas.
Esta farsa da Operação Lava Jato tem sido questionada por especialistas
do mundo todo. No Brasil, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
(ABJD) e a Associação de Juízes pela Democracia (AJD) têm sido firmes nestes questionamentos.
Jornalistas que cumprem sua função no marco da liberdade de imprensa estão
sendo perseguidos e ameaçados por seu trabalho, como Glenn Greenwald.
As elites sempre utilizaram o sistema do judiciário para criminalizar
defensores de direitos humanos, lideranças dos movimentos sociais e religiosos
que lutam na defesa dos menos favorecidos. No estado do Pará, o caso mais
recente é o do Padre Amaro Lopes, que era Pároco da Paróquia de Anapu e membro
da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ele foi acusado e preso por três meses sem
que houvesse provas ou justo motivo. Reformar o sistema judiciário brasileiro,
para que seja mais democrático e com maior controle social, é uma necessidade
urgente.
Esta edição do jornal RESISTÊNCIA traduz esse
contexto de luta por justiça social e de denúncia de impunidades. Elas estão nas
matérias sobre a Chacina do Guamá, em Belém, e sobre a ordem de despejo no
assentamento Dalcídio Jurandir, em Eldorado dos Carajás, entrelaçada pelo
artigo sobre a trágica Nova Lei de Terras, assinada pelo governador Helder
Barbalho. Estão na matéria sobre os esforços por reverter o encarceramento em
massa no Brasil e nos artigos sobre o ataque à vida de mulheres, quilombolas e
LGBTI+. Estão no alerta para a inaceitável reforma da Previdência. Oferecemos
ainda a charge e a poesia, para reafirmar o valor inestimável da arte em nossa
caminhada.
Veja esta edição 42: